Serigrafia de Manuela Justino com poema de António Ramos Rosa
Tudo o que é deslumbrante tem uma auréola vaga
ou um círculo de ténue sombra sobre as linhas dos cabelos.
Uma mulher bela é semelhante a uma escultura de água
e tem a aveludada imobilidade do azul.
O poema é uma pedra que ora é um barco ora uma lua.
O poema é o movimento da imobilidade
e o frémito branco da incandescência vegetal.
Ele nunca preenche o vazio ou o silêncio, mas incorpora-os
nas suas veias azuis de uma delicadeza trémula.
Ele pode ter os ténues tentáculos do vento
e a sombra verde da amresia das árvores.
Quando tem a vaga felicidade de brancura
é porque absorveu a imobilidade vazia da página.
António Ramos Rosa
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